Ó Noya, onde é que andavas tu (já agora - mais pertinente e interessante, diga-se - onde é que tens andado) naquele dia de Verão de 66?

Lembro-me perfeitamente desse dia. A minha mãe pediu-me para ir comprar sabão azul, que já não tinha em casa. "Dove, mãe, Dove! É melhor. É mais macio. Sei que não é tão cheiroso mas faz melhor à pele", disse-lhe, pronunciando as 4 letrinhas num inglês perfeito, querendo mostrar à minha mãe o que andava a aprender na escola e o quão natural me fluía a língua para o inglês.
"Mas que me interessa fazer melhor à pele se eu quero o sabão para tirar a nódoa a esta camisola?", respondeu-me. Com razão devo acrescentar. "Olha, e vai antes ao continente que este supermercado não tem", disse-me.

Ora, fazendo o continente - o hipermercado - parte do vasco da gama - o centro comercial - naquela altura (creio que ainda faz parte) e que este era no parque das nações tive que ir de carro. A pé não dava muito jeito, visto que de carro são 10 minutos.
A verdade é que me atrasei um pouco a regressar a casa. Estava a passar no cinema o 'Beleza Americana'. Já tinha visto o trailer, lido a sinopse e senti-me intrigado e ansioso por vê-lo. Apenas serviu para confirmar a beleza do mesmo (e as 2 repetidas idas - verdade! - reconfirmaram-no). Fiquei apaixonado.
No final, apesar de abismado e pensativo pelo que acabara de ver, não deixei de estranhar o facto de ter sido o único na sala, principalmente por ser a semana de estreia, mas enfim, acabei por não me estender muito nessa preocupação.

A caminho de casa, estranhei os cachecóis nas janelas. "Mas a selecção joga hoje? Não me lembro de ver nada acerca disso..."

Ao chegar a casa fora de tempo, impossibilitando a tarefa de retirar a nódoa das calças, e sem tempo nem hipótese de perguntar o que se passava naquele dia, fui de imediato posto de castigo, impossibilitando-me a saída com os meus amigos à noite. Se havia coisa que sabia era que aquele casaco de malha era importante e com a nódoa, tornava-se inutil, pelo que aceitei o castigo.
Mal sabia eu a sorte que me calhara, pois nessa mesma noite passou na televisão uma das minhas melhores memórias - Crime na Pensão Estrelinha. Herman José e companhia no seu melhor. Nunca mais esquecerei esse dia de Verão.

E o mais curioso disto tudo? Não é que Portugal jogou nessa tarde contra a Coreia do Norte para o mundial de 1966, num dos jogos mais emblemáticos de sempre? Valeu-me a tv por cabo, que me permitiu voltar atrás e ver o jogo. Nunca me esquecerei daquelas camisolas de um vermelho garrido a correrem sobre aquele manto verde lindissimo. Que jogo! Que alegria!
Foi aí que passei a adorar esse jogo chamado futebol. Até aí só gostava mesmo era de soccer.

2 comentários:

Dias Cães disse...

Tu estás maluco :)
Bem-vindo!

POC disse...

Quase um ano depois, bem-vindo, pois.