A política e a humanidade sob o espectro dos telhados de vidro

Já há algum tempo fiz por deixar de falar em política e mais especificamente nas suas personagens principais pelos motivos óbvios. São chatos! Ora sendo eu chato - e sabendo a sensação que isso provoca - não estaria a melhorar a situação falando de um bando deles. Até porque isto não é como a matemática, o negativo com o negativo não dá, nem à lei da bala, algo positivo.

Mas de tanto se cascar nos gajos, há que não ser faccioso e também ver o mundo deles projectando o nosso. E que melhor do que traçar esse paralelo do que as relações amorosas? Nada, certo?
Qual é a diferença entre um debate político e uma discussão entre namorados/casados? É a quantidade de intervenientes e a audiência...

Houve uma coisa nesta campanha - e de resto, nas outras campanhas todas - que me leva à incompreensão.
Porque será que não houve uma única discussão de ideias para colocar o país no rumo certo? Porque é que só houve análises aos programas dos adversários - o que até nem foi mau de todo, tendo em conta o "embaraço" do Louçã - e pior que isso, porque é que na maioria das vezes só apontaram o dedo ao que aquele fez no ano passado, e o outro disse há 5 anos e por aí fora? Porque é que ninguém discutiu, por exemplo, o défice brutal que o país já leva?

E é aqui que entra o paralelo, vendo bem as coisas.
Quantos são os que conseguem falar em tom moderado numa discussão? Quantos são os que não tentam impor a sua personalidade e tentam chegar a um consenso? Quantos são os que planeiam e projectam, com régua e esquadro, a relação para o futuro? Quantos são os que pensam para além deles?
Quantos são os que não apontam o dedo à outra pessoa e lhe atiram à cara determinadas coisas, encravadas desde a altura em que aconteceram? Quantos não apontam os defeitos da outra pessoa e sim de si próprios?
Quantos têm a consciência e acima de tudo a coragem para reflectirem sobre os seus comportamentos?
No fundo, quantos de nós, numa discussão são capazes de admitir a culpa em algo que correu mal?

Se tantas vezes não se consegue encarar uma só pessoa, que conhecemos e nos conhece, que está lá para o que der e vier, que é a pessoa em quem devemos confiar, imaginemos o que será ter que comunicar para milhares - milhões - de pessoas desconhecidas?
É a nossa maneira, quer se goste ou não. Não nos culpabilizarmos.

E tal como foi feito um paralelo com as relações amorosas, também é possivel fazer com qualquer relação interpessoal, como as laborais. E aqui já ia dar muito mais pano para mangas. Apenas sou da opinião que enquanto não formos exigentes connosco que estamos proíbidos de exigir qualidade da classe política. Até porque o país não está enterrado só à conta deles, não é?
Eles estão lá porque querem, ninguém os obrigou, é certo. Mas se calhar somos nós que temos que começar a exigir mais e melhor, e a dar o exemplo, digo eu...

PS: Não me venham dizer que trabalham - seja na relação ou para o salário - como se não houvesse quem não o faça ou não conhecessem dezenas de exemplos nestas matérias. Eu sei quem é quem aqui, sei quem faz e quem diz que faz mas coça a micose o dia todo...

22 comentários:

rosebud disse...

Ai que eu gostei tanto do título!

Moyle disse...

o problema de Portugal, neste momento e há umas boas décadas, é estar cheio de portugueses. pode ser triste - que o é - mas não deixa de ser verdade.

Pronúncia disse...

13, claro que não é fácil falar para uma multidão desconhecida e que também temos culpas no cartório. O maior desses é a nossa pouca exigência seja mas relações pessoais, laborais ou sociais.
Eles sabem que não é preciso muito para convencer a maior parte dos tugas... meia dúzia de palavras bonitas, embrulhadas em promessas, com muita festa à mistura e o tuga... cai que nem tordos!

forteifeio disse...

Importante seria falarem verdade, e não virem com contos de fada como o TGV num País que está endividado como cabaste de dizer. Se não temos dinheio para combater o desemprego esse flagelo temos para obras desta dimensão que darão rios de dinheiro aos construtores, e mais divida para nós.

Tasha disse...

Já cá venho há muito, mas este á verdadeiramente um assunto qeu me toca, sendo eu uma recente emigrante. Fugida da pequenez que é Portugal.
O facto é, se tudo corresse bem, como se queixava o portugues? O povo gosta do queixume, do lamento e da vida dificil... 40% de abstencao em eleicoes legislativas,Provam-no e também que somos preguicosos. Mas queremos a mudanca? Entao porque é qeu esses 40% nao levantaram o cú da cadeira para irem votar?
É uma pena e por isso estou no Reino Unido...
Como alguém já aqui disse: O mal de Portugal é estar cheio de Portugueses (conformados, porque os inconformados emigram)...

1REZ3 disse...

Rosebud,

obrigado :) Já o texto...

1REZ3 disse...

Moyle,

lá que é triste é, se é verdade ou não, não sei.
Eu atribuo a "culpa" mas é aos responsáveis pela revolução feita de flores. Não haver sangue deu nisto, somos mansinhos...

1REZ3 disse...

Pronúncia,

a elevação da qualidade passa pela nossa exigência, a começar no nosso próprio "mundo".
O que me faz confusão no meu trabalho, por ex., é o quanto basta aos meus colegas ser suficiente, não exigem sequer estar perto da perfeição, o que interessa é despachar a todo o custo. E o que retiro daí é que acho que o próprio cliente também não é muito exigente, o que permite a entrada em acção deste ciclo vicioso...

1REZ3 disse...

Forte,

é que não houve absolutamente nada! Os tais debates de que toda a gente falava não em mais nada do que em apontar de dedos. O exemplo da asfixia democrática na Madeira (entre a MFL e o Portas) é prova disso. Falaram em tudo menos no que interessa aos portugueses...

1REZ3 disse...

Tasha,

então sê bem-vinda ao painel de comentários :)

Os portugueses (residentes), são cronicamente inconformados. Mas é só para falar, porque para agir que venham os outros. Está no sangue, o queixume constante. Tristemente. E depois a culpa é sempre dos outros, no caso - em parte também o são, obviamente! - os políticos.

Dylan disse...

Este hotel é recente e tem a vantagem de ficar perto de uma estação da linha do Douro. Não é muito caro.

http://www.douropalace.com/localizacao.php

1REZ3 disse...

Dylan,

muito obrigado, mais uma vez :)

Dylan disse...

Este alojamento é mais caro, mas de uma qualidade excepcional, e tem estação de comboio da linha do Douro perto.
http://www.casasdepousadouro.com/

Dylan disse...

Também podes comprar a revista "Rotas e Destinos", edição de Outubro, já à venda, com um artigo muito interessante sobre o Douro.

Dylan disse...

Para ti, 13:

http://www.youtube.com/watch?v=70XtCkFUpJo

LBJ disse...

O problema neste País continua e continuará a ser falta de educação e não daquela que se aprende nas escolas...

Abraço

Francis disse...

"Mas se calhar somos nós que temos que começar a exigir mais e melhor, e a dar o exemplo, digo eu..."

Ora aí está. Mas a gente quer é dizer mal.

1REZ3 disse...

Dylan,

viste os comentários lá? Tanto amor... :D

1REZ3 disse...

LBJ,

nem mais! E haja vontade também - que também é difícil...

Abraço.

1REZ3 disse...

francis,

está no sangue...

Dakota disse...

Sobre o teu post, ocorreu-me um texto que li hoje atráves do http://food-i-do.blogspot.com/

Post el mistério portugués

Ora vê lá!

PS: não querendo fazer do teu blogue porta de passagem para outros, desde já, as minhas desculpas.

1REZ3 disse...

Dakota,

antes de mais, bem-vinda :) E não te preocupes, é na boa. Já li o texto e achei-o interessante mas um tanto redutor. Há muita coisa que não deve ser "explicado" com tão pouco.
Mas ao mesmo tempo não posso deixar de dar uma certa razão ao autor, principalmente pelo que se vê logo a seguir nos comentários, as virgens ofendidas...

Achei também uma certa estupidez aquela das traduções vs. dobragens. E esta toca-me forte porque há muito lido com a realidade deles e é algo, a meu ver, abjecto. Se aprendi a falar (e bem, diga-se) inglês, muito se deve aos desenhos animados na altura legendados :)

Obrigado pelo link.