Haja esperança...

Na semana semana passada, já não me lembro porquê, questionei a colegas de diferentes estatutos a horas diferentes "porque é que com esta história da crise, as pessoas com os maiores salários não os reduzem, começando no director, passando pelo sub-director e pelo chefe e por aí fora na restante empresa e Grupo? Para poder salvaguardar, ou melhor, salvar determinados empregos de trabalhadores de rendimento mais baixo."
Foi interessante ver que pessoas completamente diferentes e sem terem ouvido quando perguntei às outras, terem reagido da mesma forma, com aquela expressão de olhos muito abertos e com a cara meio de lado como quem diz "Eh pá!, nem entres por aí. Isso é muito complicado, já sabes como as coisas são..."

Isto porque se diz (e se confirma) que agora não passam mais trabalhadores a regime de efectividade, porque o "Patrão pode querer vender e para quem comprar é melhor não ter tantos efectivos". Ou seja, chega-se ao fim do contrato e...

Pois nem por acaso, ao ler o "Expresso" ontem (é o que dá desperdiçar o tempo que tenho a escrever posts, por exemplo...) deparei-me com o Editorial e passo a transcrever:

«Ter emprego sempre foi um bem precioso. Porém, nos dias que correm, o seu valor é quase inestimável. Toda a gente sabe que o desemprego se afigura como a principal ameaça da actual crise; especialistas — e não particularmente pessimistas — estimam que ainda antes do fim deste ano a taxa de desemprego chegará aos 10%. Perante esta realidade, diversas medidas podem ser tomadas. Habitualmente, em Portugal, pensa-se que essas medidas apenas cabem ao Estado, ou ao Governo. Mas tal não é verdade: todos nós podemos contribuir para a manutenção do emprego e das empresas, num quadro de reforço da solidariedade e da exigência, o que naturalmente acarreta sacrifícios partilhados. Foi o caminho que seguiu o Grupo Impresa e o Expresso em particular. Em editoriais, raramente falamos de nós próprios, mas há momentos excepcionais, como este, em que nos orgulhamos de ter sido exemplares. No grupo de comunicação social — o único grupo português exclusivamente de comunicação social — que detém a propriedade deste jornal, todos os administradores cortaram 10% ou mais nos seus salários (e abdicaram de bónus). Mais: todos os directores deste jornal fizeram voluntariamente o mesmo e foram seguidos pelos redactores com melhores salários. 0 Conselho de Redacção do Expresso (orgão eleito por todos os jornalistas) apoiou outras formas de poupança que implicam a suspensão de retribuições extraordinárias. Como recompensa apenas querem passar esta crise em equipa, evitando despedimentos, e permitir o regresso da empresa aos lucros. De forma a manter o seu bem comum mais precioso: a total indepêndencia editorial do nosso Expresso.»

Nem mais!

Não estou com isto a querer dizer que descobri a pólvora ou que sou o Maior! Quem me conhece sabe que estou bem longe de me considerar um ser inteligente. Mas se eu consigo chegar a essas questões, sem sequer ter queda para economista, porque não chegam lá os outros?

Será impossivel mudar essa mentalidade?

Pergunto e respondo: É! É triste mas infelizmente é o que sinto. As pessoas são demasiado "cegas" e egoístas.
E infelizmente a parte do "o que naturalmente acarreta sacrifícios partilhados" serviu para me fazer rir (ironicamente, claro).
Vendo o que vejo todos os dias, a falta de coragem para se dizer e apontar o dedo a determinadas coisas fazem-me sentir que será sempre mais fácil continuarem tranquilos no seu estatuto e os outros que se lixem porque "ninguém tem culpa da crise".

Pois não. Ninguém tem culpa. Muito menos os mais "pequenos" que vos fizeram chegar onde chegaram...

E não acredito também porque neste tempo - principalmente neste tempo - em que estamos, em vez de instaurarem a calma e o diálogo, fazem precisamente o contrário aumentando a intensidade deste nevoeiro de dúvidas e deixando no ar os (fantásticos) enigmas da crise.

Resta esperar que pessoas supostamente mais inteligentes e capazes tenham ainda uma réstia de "coração" e muita cabeça e cheguem onde poucos conseguem chegar...

1 comentário:

Ginger disse...

Fiquei emocionada (verdadeiramente emocionada) com esse artigo do Expresso.

Ainda há uns tempos, ao ouvir no telejornal que uma multinacional qualquer, com cerca de 140.000 empregados em todo o mundo, ia despedir cerca de 7.000... perguntei-me a mim mesma "ora, porque não baixam um pouco os salários a TODOS para se poderem manter os empregos?? :s"

Depois disso, uma amiga minha que tem uma empresa no ramo da construção disse que ia ter de despedir uma data de empregados porque pura e simplesmente não tem trabalho para eles... e que tinha pena, pois já trabalham para a empresa há muitos anos... e eu perguntei-lhe então porque não baixavam os salários a todos os empregados... e ela disse: "ah... mas e a Caixa, teria sempre de pagar caixa... manter um empregado custa muito a uma empresa... blá blá blá". Pois eu acho que o que há, é falta de vontade.

Espero, muito sinceramente, que mais empresas sigam o exemplo nobre do Expresso.


kiss*